Convidado pela revista "La Garganta Poderosa", vai participar de uma cobertura alternativa do torneio
Folhapress
René "El Loco" Houseman sempre foi um jogador de futebol único. Como centenas de outros ex-atletas profissionais, ele estará no Brasil para acompanhar a Copa do Mundo. Mais uma vez, será diferente de todos os demais.
Houseman, ex-atacante campeão mundial com a seleção argentina em 1978, visitará o Rio de Janeiro durante a competição. Não vai se hospedar em hotel de luxo. Sua casa será as favelas. De início, vai ficar em Santa Marta, localizada próxima ao bairro de Botafogo, na zona sul carioca. El Loco estará por lá, circulando por comunidades carentes da cidade por quase todo o torneio.
Convidado pela revista "La Garganta Poderosa", vai participar de uma cobertura alternativa do torneio da Fifa. Comentará o evento para moradores das favelas, mas dentro de "uma visão social", segundo informações da revista que cobre temas "villeros" (de favelas).
"Não sei se o certo é dizer que vamos cobrir o Mundial. Creio que vamos descobri-lo para tantas pessoas que não terão oportunidades de ver os jogos pessoalmente e necessitam de muitas coisas dos governos", disse o ex-jogador do Huracán.
A estadia de Houseman e das outras 12 pessoas incluídas no projeto, além da logística para organizar debates e os comentários, serão pagas pelo Conselho Latino-americano de Ciências Sociais.
"Nem pedi tempo para pensar. Quando fiquei sabendo do projeto foi um 'sim' automático. É proposta que tem tudo a ver comigo, com o que sou e de onde vim. Não apareceu um segundo de indecisão. Tive certeza de que era o certo", afirma Houseman.
Ele passou os últimos 45 dias em acampamento próximo ao Obelisco, no centro de Buenos Aires. Reivindicava, com outras pessoas, a urbanização das favelas da capital argentina.
"Eu nunca me importei em fazer o que os outros jogadores faziam. Sempre fiz o que achava certo e justo. Acho que sou assim até hoje", finaliza.
Houseman passou quase a vida inteira em Bajo Belgrano, favela próximo ao luxuoso bairro de Palermo. Quando foi convocado para o Mundial de 1974, na Alemanha, aos 24, ainda morava por lá. O mesmo quatro anos mais tarde, quando veio o chamado de César Luis Menotti para jogar a Copa. Foi campeão. Um rebelde, de esquerda, em um título usado pelo governo militar do general Jorge Rafael Videla.
"Eu sempre morei em favela. Sempre gostei de lá. E se gostava, me sentia bem e era onde estavam meus amigos, por que sairia de lá?", questionou.
É o mesmo Houseman que faltava a treinos no Huracán para atuar em partidas de várzea pelo time do seu bairro. Que detestava os treinos de manhã porque o privavam da oportunidade de ficar na rua conversando até tarde com os amigos.
O atacante que, a pedido do Huracán, alugou apartamento em bairro de classe média de Buenos Aires nos anos 70. Não aguentou dois meses. Voltou para Bajo Belgrano reclamando que faltava vida no prédio conseguido pelo clube onde foi campeão nacional. Ninguém falava com ninguém.
Conversar é o que ele mais pretende fazer nos tours para falar nas favelas brasileiras. Sobre Copa do Mundo e todo o resto. Principalmente, todo o resto.
"É uma oportunidade histórica. O futebol não é da Fifa. Não é das grandes marcas. É da 'gente'", explica, citando a palavra preferida dos argentinos para se referir ao povo.
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